No Outubro passado eu completei 20 anos e como presente a minha namorada
decidiu me levar por uma semana para uma cabana no campo, completamente cercada
por uma floresta, no interior de Minas Gerais.
Eu passei o meu aniversário, 4 de Outubro, com a minha família e a Christiane, e
no dia 5, nós duas fomos viajar. Levou cerca de 3 horas de ônibus até a cidade
perto de onde ficaríamos e mais meia hora de táxi até perto da cabana.
A floresta lembrava um pouco a do filme da Bruxa de Blair, só que com as árvores
bem mais cheias de folhas. Levamos mais uma meia hora de caminhada até chegar
lá, por uma trilha estreita por onde mal passava um carro.
Nós chegamos na cabana lá pelo meio dia e desfizemos as nossas malas, então
fomos fazer um tour pela casa. Era muito confortável para falar a verdade, até
demais para chamar aquilo de cabana! Ela tinha dois andares. O andar de baixo
era dominado pela sala de estar. Tinha um sofá bem confortável, poltronas, uma
TV com tela grande e até um DVD (nos falaram para levar alguns DVDs para
assistir já que a recepção da TV não era boa por causa das árvores.) A cozinha
tinha um forno elétrico e uma geladeira. Eu fiquei aliviada com isso, eu gostei
da idéia de ir para uma cabana, sem muitos confortos, mas eu não gostava nem um
pouco da idéia de ter que acender um fogo para poder cozinhar. Eu sou Wicca e
não gosto da idéia de cortar árvores, mesmo que seja somente uma ou duas. Também
tinha um banheiro no andar de baixo.
Tinha uma escada na parte da frente da casa. Lá em cima tinham 3 quartos, 2 eram
minúsculos, mal cabia uma cama de solteiro neles, mas o 3º era enorme! Tinham
uma cama de casal king size, armários embutidos e espelhos na parede. Também
tinham um banheiro grande com uma banheira e um chuveiro separado, e um biombo
para poder se trocar.
Depois de dar uma olhada pela casa decidimos que estávamos famintas depois da
jornada. Nós fizemos espaguete com almôndegas de soja (a Chris é vegetariana).
Conversamos sobre o que faríamos durante a semana, os nossos planos eram
basicamente assistir aos filmes, dormir até tarde e ficar abraçadas o tempo
todo! Depois de comer decidimos dar uma olhada na TV, mas antes abrimos todas as
janelas já que estava um pouco abafado lá dentro.
A brisa estava maravilhosa, eu imaginei que estivesse fresca por causa da sombra
das árvores. Nós fomos vendo os canais, mas como tinham nos falado, a recepção
estava péssima! Então resolvemos ver um DVD. Nós estávamos assistindo a uma
comédia, e cerca de 5 minutos depois que colocamos o filme, ouvimos um grito
arrepiante. Nós congelamos, parecia vir de todos os lugares, do andar de cima,
do lado de fora e da sala também. Eu corri para o lado de fora para ver se eu
encontrava alguém e a Chris foi para o andar de cima, para procurar pelos
quartos. Eu gritava com toda a força, perguntando se tinha alguém lá e se
precisavam de ajuda, por cerca de 10 minutos, até a minha garganta começar a
doer e a minha voz começar a fraquejar. Ninguém respondeu. Nada. Nós duas
voltamos para a sala, completamente confusas.
Depois de concordar que nós duas ouvimos um mulher gritando, nó conversamos
sobre as possibilidades. Se não havia mulher nenhuma, e nem ninguém, então só
poderia ser um fantasma. Eu estava disposta a acreditar nisso, mas a Chris, que
é cética, decidiu que devia ser algum pássaro, um gato do mato ou algum outro
animal gritando ou brigando, ou alguma coisa do gênero. Eu decidi concordar com
ela já que ela nunca acredita em nada, mesmo eu morando em uma casa assombrada
(outras histórias que talvez eu conte depois!) Ela ainda acha que são coisas
normais, que não é nada demais, apenas a nossa mente pregando peças na gente, ou
coisas mal explicadas, ela nem mesmo acredita em Magicka! Então acabamos
voltando a assistir o DVD e tudo ficou bem, até a hora de dormir.
Nós não fomos dormir até as 2 da manhã, já que eu tenho insônia e a Chris
trabalha de noite em um hospital (ela está estudando medicina), então estamos as
duas acostumadas a dormir tarde. Nós ficamos deitadas, só com um abajur ligado,
conversando como era bom estar lá e como era boa a cabana e como era bom
ficarmos sozinhas a semana toda, já que geralmente nós mal conseguimos ter uma
refeição juntas sem que algo aconteça ou alguém apareça. Eu liguei para a minha
família para falar que estava tudo bem, e mandei algumas mensagens de texto pelo
meu celular para alguns amigos, só dizendo um oi pra eles e então decidimos ir
dormir. Nós tínhamos deixado um ventilador ligado, já que estava bem quente, e
só um lençol cobrindo a gente. Tudo o que a gente podia ouvir era o ventilador e
uma coruja ou outra lá fora. Nós duas dormimos bem rápido, cansadas de ter
acordado cedo e da tarde movimentada que tivemos depois que chegamos.
No entanto eu acordei um pouco depois. Eu não sei o que foi que me acordou, mas
era como se alguém tivesse chamado o meu nome. Eu olhei o relógio e era quase
3:30, estava escuro e eu estava congelando. Eu estava deitada pensando por que
eu tinha acordado quando eu escuto uma gargalhada vindo da porta do quarto. Eu
tentei ver se tinha algo lá, mas estava muito escuro para ver qualquer coisa e
apesar disso eu estava sem óculos e eu praticamente não enxergo nada a mais de
um palmo de distancia do meu rosto, só borrões. Eu estendi o braço e acendi a
luz, e vi uma sombra sumir rápido da porta e então mais nada, só o vazio da
porta. A Chris se mexeu sonolenta do meu lado, perguntando por que eu tinha
acendido a luz. Eu chacoalhei ela até ela acordar completamente e contei o que
tinha acontecido. Ela, claro, não acreditou em mim. Ela não achou que eu estava
mentindo, só que eu estava com sono e tinha imaginado a gargalhada e a sombra.
Eu concordei, dei um beijo nela, apaguei a luz para voltar a dormir. Ela me
abraçou e eu me senti mais calma nos braços dela. Eu não estava realmente
assustada, como eu já disse, eu moro em uma casa assombrada. Mas eu conheço os
meus fantasmas e sei que eles não me machucariam, e até me protegeriam, mas esse
espírito eu não conhecia, então eu tinha que me manter alerta. Logo eu ouvi a
respiração calma da Chris dormindo ao meu lado e não muito tempo depois eu me
juntei a ela.
Nós acordamos cerca de 11:30 e ficamos deitadas na cama, aproveitando aquela paz
toda que rodeava a casa. Aquela sombra que tinha gargalhado no meio da noite
ainda me incomodava, mas eu decidi esquecer dele. Se ele não me machucasse, eu
não machucaria ele.
Nós fizemos um café da manhã, iogurte vegetal e algumas frutas. Não falamos
sobre nada em particular enquanto comíamos, apenas ríamos e fazíamos piadas.
Como o dia estava muito quente, eu decidi tomar uma ducha fria antes de fazer
qualquer coisa. Chris decidiu tomar um banho quente de banheira, quente até
demais para o meu gosto, já que estava um calor muito forte. Eu tomei o meu
banho e coloquei um short e uma blusinha e enquanto a Chris tomava o banho dela,
eu lia para ela. Nós estávamos lendo os livros do Harry Potter, nós duas somos
vidradas na coleção! Nós nos revezamos, lendo cada uma um capítulo em voz alta
para a outra. Desse modo nós podemos ler o mesmo livro ao mesmo tempo. Eu tinha
apenas lido algumas páginas do 10º capítulo do 3º livro quando de repente
ouvimos umas batidas na porta da frente da cabana, como se alguém estivesse
dando socos nela. Eu desci para ver quem era. Eu não imaginava que tivesse mais
alguém pela região, e estava esperando que não tivesse acontecido nada com as
nossas famílias. Eu abri a porta e não tinha ninguém lá. Eu chamei mas ninguém
respondeu. Eu dei uma volta pelo lado de fora da casa, mas não vi ninguém.
Quando eu voltei a Chris já estava vestida com um short e uma blusa e perguntou
o que era e eu falei que não tinha ninguém lá. Ela mais uma vez não deu muita
atenção ao que aconteceu, mas dessa vez eu vi nos olhos dela que ela tinha
ficado um pouco nervosa. Eu sabia muito bem o que estava acontecendo, nós
estávamos no meio do mato em uma casa com um ou mais fantasmas. Eu não estava
brava com a Chris por não acreditar, eu sabia que com o tempo se ela tivesse
provas o suficiente ela iria acreditar. E eu também sabia que se nós ficássemos
a semana toda lá ela teria a prova necessária dançando na frente dela.
O dia seguiu sem nada de fantasmagórico acontecer, até a hora do jantar. Nós
passamos o dia andando pela floresta, foi maravilhoso estar fora da cidade e
cercada pela natureza. No final da tarde nós estávamos cozinhando, tínhamos
colocado batatas para assar no forno e estávamos assistindo "Olhos Famintos" no
DVD, quando alguma coisa na cozinha chamou a nossa atenção. A cozinha era ligada
à sala por um lindo arco sem porta. Através desse arco nós vimos um copo...
flutuando! Saiu do lado direito da cozinha e flutuou por um momento, antes de se
quebrar no chão. Infelizmente isso não foi o pior de tudo. Assim que o copo
quebrou, uma voz grossa, forte e um tanto demoníaca ecoou pela casa falando
"SAIAM" e então ouvimos aquele grito arrepiante de mulher. Não preciso nem dizer
que nós obedecemos.
Nos sentamos em um tronco caído a uns 10 metros da casa. Eu olhei para a Chris e
simplesmente falei "Então, o que você acha que acabou de acontecer?" Ela só
olhou para mim e eu pude ver o medo nos olhos dela. Depois de um minuto ou mais
ela falou "Talvez a gente devesse fazer algo, tipo, você fazer algo. Você é boa
com esse tipo de coisa, fantasmas e tal, não tem nada que você possa fazer?" É
claro que tinha! Eu nunca vou a nenhum lugar sem o meu livro de feitiços e
algumas ervas, incluindo sal marinho, sálvia, e alecrim, excelentes para
encantamentos de banimento e purificação. Nós decidimos voltar para dentro
depois de uns 10 minutos. A Chris estava segurando forte a minha mão, ela é 2
anos mais velha que eu, mas obviamente nunca passou por experiências como essa
antes, e estava mais do que apavorada.
Eu deixei ela na cozinha, ela falou que estava melhor agora e que cuidaria da
comida, que já estava quase pronta. Eu fui até o andar de cima pegar as minhas
ervas e o sal, e achei as palavras que eu precisava no livro de encantos, para
me livrar daquele mal que nos assolava. Eu juntei tudo e fui para o andar de
baixo. Chris e eu jantamos em silêncio, eu decidi que seria melhor eu juntar as
minhas forças antes de iniciar o banimento. Eu comecei do topo da casa, passando
pelos quartos, espalhando a mistura e entoando os meus versos enquanto
caminhava. Passei pela casa toda e cheguei até a porta da frente, juntei todas
as minhas forças e gritei "Saia deste lugar, energia maligna. Que assim seja!" A
casa pareceu ficar muito mais aliviada depois disso. A luz e o ar pareciam fluir
melhor pela cabana e tudo parecia estar bem. Mas infelizmente os coisas ficariam
bem pior tarde da noite. Tão piores que nos fariam deixar a casa aterrorizadas.
Nós decidimos que depois de um dia como o que tínhamos tido, nós iríamos embora
de manhã, então depois do jantar, nós arrumamos as nossas coisas e deixamos tudo
pronto no pé da nossa cama. Nós fomos para a cama um pouco relutantes. Nós
apenas ficamos sentadas, lendo um pouco. Havia uma grande tempestade se formando
lá fora, nós podíamos ouvir os trovões na distancia, e sabíamos que iria começar
a chover forte em breve. Nós lemos por cerca de mais 2 horas, nos revezando para
ler em voz alta. Lá pela 1:30, o céu caiu. A chuva se jogava contra a casa e
trovões estouravam tão alto que faziam a nossa orelha apitar. Nós duas sempre
achamos que havia algo de romântico em tempestades como essa, eu não sei o por
quê. Então eu acho que para aliviar um pouco a tensão toda nós começamos a nos
beijar. Cerca de 20 minutos depois, o abajur que estava aceso apagou depois que
um raio caiu perto da cabana. Nós congelamos, ficamos completamente paralisadas
de medo de estar em uma casa assombrada no escuro. A Chris tentou acender as
outras luzes, mas não adiantou de nada. Não tinha energia na casa. Claro que
qualquer bruxa com respeito próprio sempre tem algumas velas à mão! Então eu
acendi algumas pelo quarto e me senti um pouco melhor com aquela meia luz
clareando um pouco as coisas. Nós tínhamos fechado e conferido todas as janelas
já que queríamos ir embora logo pela manhã, mas apesar disso um ventania gélida
entrou no quarto e apagou todas as velas. A minha respiração ficou presa quando
senti o frio tomar conta do quarto. Se eu pudesse ver, eu teria visto o ar
quente da minha respiração saindo da minha boca. Eu estava coberta de calafrios
e podia sentir a Chris tremendo nos meus braços. Um raio caiu e naquele curto
momento de luz pudemos ver manchas de sangue espalhado pela parede. Cinco
segundos depois, outro raio, e na porta do quarto estava a sombra. Nós ouvimos a
sua risada meio assoprada e com um tom maligno. Nós começamos a notar dois
pontos de um laranja avermelhados se formar vagarosamente. Eram os seus olhos,
que vibravam de leve enquanto ele soltava aquele risada arrastada. Sentíamos o
quarto se enchendo com a sua maldade. Então ouvimos os seus passos atravessando
o quarto vagarosamente. Então eu sussurrei para a Chris se concentrar em uma luz
branca nos cercando, nos desse mal. Eu fiz o mesmo. Assim que a risada dele
parou, outro clarão de um raio iluminou o quarto e eu pude ver a sua boca
escancarada, e vários dentes que pareciam lâminas, como a boca de um tubarão. Eu
invoquei a nossa luz branca e gritei para ele "Nos deixe em paz demônio lascivo,
você está impedido de nos fazer mal, nós estamos protegidas pela luz branca que
queima e expulsa a sua maldade deste lugar!" As luzes voltaram. sem pensar duas
vezes, nós pegamos nossas botas, nossas malas, eu peguei o meu telefone e
corremos para fora de lá, somente de pijamas, como se tivesse alguma coisa no
nosso encalço. E a gargalhada estava. Assim que passamos pela soleira da porta,
aquela voz gritou "CORRAM, EU VOU DEVORAR AS SUAS ALMAS SE VOLTAREM!" E nós
corremos, corremos até sairmos daquela floresta.
Eu liguei para um táxi vir buscar a gente (diferente dos filmes, o meu celular
estava com a bateria carregada e recebendo sinal!) e fomos para um hotel na
região, de onde ligamos para todos os nossos conhecidos para falar onde
estávamos, não que eles tenham gostado, já que eram 4 da manhã! Nós não dormimos
direito naquela noite, e cerca de um mês depois a minha insônia piorou bastante.
Hoje em dia tudo já voltou ao normal. Agora eu posso afirmar com certeza que a
Chris acredita em fantasmas e no oculto! Eu sei que esse ano não iremos viajar
no meu aniversário!
Daiane - MG